terça-feira, 24 de junho de 2014

PSEUDO-RESENHA: "Cobras e Piercings" (Hitomi Kanehara)

Cobras e Piercings  
Título: "Cobras e Piercings"
Título Original: "Hebi ni piasu"
Autor: Hitomi Kanehara (JAP) 
Ano de Publicação: 2004
Publicação no Brasil (esta edição): 2007 
Quando foi lido: 22/06/2014 - 24/06/2014
Editora: Geração Editorial - Ediouro
Arte da Capa: Silvana Mattievich
Número de Páginas: 124
Tradução: Jefferson José Teixeira











[Só pra constar, não há spoilers nem nada que comprometa significativamente a leitura, a não ser quando sugerido]






"COBRAS E PIERCINGS"



"Cobras e Piercings gira em torno de um triângulo amoroso: a narradora Lui, recém-saída da adolescência, seu namorado Ama, rapaz cheio de tatuagens e piercings, e Shiba, skinhead e tatuador sádico. Lui faz uma split tongue, língua difurcada, como a das serpentes, para imitar Ama. Ela suporta e até busca aumentar a dor física, ampliando o tamanho do piercing lingual, e no relacionamento masoquista com o Shiba, sem que Ama saiba. Enquanto sua língua se divide, Lui vive dividida entre Ama e Shiba. Uma noite, para defender Lui, Ama ataca um desconhecido na rua."

[sinopse levemente editada do Skoob] 





O LIVRO



Não comprei esse livro porque já tinha ouvido falar do título ou da autora, tampouco porque a capa me agradou ou a premissa me interessou. De fato, o único motivo verdadeiro para a compra foi uma daquelas terríveis decaídas na tentativa de ficar um tempo sem adquirir um novo livro, aliada também ao detalhe de o livro estar em promoção na livraria.


Bom, é um livro curto, aparentava ser diferente, é literatura japonesa (não conheço absolutamente nada sobre), a autora tinha apenas 20 anos quando publicou e acabou sendo um best-seller e ganhando um Prêmio Akutagawa (o maior prêmio literário do Japão).
Expectativas zero, minha leitura começou. 


Vamos aos aspectos positivos:


A leitura é bastante fluída por conta da escrita simples e objetiva de Kanehara. Acompanhando a protagonista Lui, nos deparamos logo de cara com o cenário underground japonês e, inevitavelmente, acabamos tendo certa noção do preconceito sofrido por muitas pessoas desse meio, por conta de sua aparência e estilo de vida.


Essa questão do preconceito aparece com certa constância durante a história e é mais interessante quando ela acaba sendo relativizada pelos próprios personagens, uma vez que eles se dividem entre punks, gangsters e patricinhas. O assunto sobre tatuagens, piercings e body modifications é trabalhada de forma bastante natural o tempo todo.


Também não demora muito para se perceber que o erotismo vai ser muito desenvolvido na história. Incluindo passagens de reflexão, sadismo e masoquismo, as cenas de sexo são escritas também com bastante objetividade, sendo congruente com o restante da escrita, não fazendo grandes alardes quando tais partes da narrativa acontecem.


As descrições sobre os procedimentos de bifurcação lingual são bastante vívidas e bastante agoniantes para quem não está muito acostumado a modificações corporais.


http://www.carmillaonline.com/archives/hitomi.jpg
Hitomi Kanehara (1983 - )
O triângulo amoroso entre Lui, Ama e Shiba não demora para ser evidenciado, juntamente com os conflitos derivados do mesmo.


A protagonista, Lui, é uma personagem difícil, pelo menos para mim. É bastante compreensível seus conflitos amorosos e existenciais, mas sua inconstância com relação aos seus sentimentos por Shiba e Ama não deixam de irritar um pouco. 


Em um momento parece que o Fulano é maravilhoso e o Beltrano não importa. 10 páginas depois, a ordem inverte.


Incomodou certo pedantismo com relação ao "modo de vida underground", em alguns momentos. Não que eu vejo algum problema em usar piercings, tatuagens e split tongue, muito pelo contrário. 


No entanto, parecia, principalmente no início, que a autora fazia questão de deixar bem claro o fato de todos ali gostarem disso e que isso faria parte da ideia de todo o romance. Tipo, acho que isso já estava evidente desde o início, como já falei. Não precisava "martelar" toda hora.


Mais para o final, começa uma fase mais depressiva do livro, acompanhada de situações envolvendo o alcoolismo de Lui. Mesclado a isso, o progresso na sua bifurcação lingual e como isso é afetado pelo seu estado emocional.


Esse foi um aspecto interessante da narrativa, mesmo que não tenha sido tãão aprofundado assim.


O problema nessa parte "depressiva" foi como ela acabou sendo inserida: não pareceu corresponder o ritmo do restante do livro. Certo, já havia bastantes conflitos e reflexão ali na história. 


Mas, do nada, literalmente em um novo parágrafo, o negócio partiu para a toda velocidade para o (quase) fundo do poço, havendo poucas explicações superficiais para sustentar as mudanças em Lui.


Além disso, devo dizer que o final não me agradou muito. Pareceu um final apático, com a essência de Lui, trabalhada desde o início, se anulando no desfecho.


Não que eu esperasse um final de flores, borboletas e fogos de artifício, mas mesmo assim...





CONCLUSÃO



Não é um livro de todo ruim, tampouco de todo bom. Atinge sua proposta de trazer uma nova perspectiva sobre os jovens japoneses e das dificuldades encontradas por alguém que quer ainda se encontrar e descobrir o que realmente quer, como é o caso de Lui.


Existem problemas, como tentei dizer anteriormente. Porém, é uma leitura fácil, um entretenimento para quem gostar do assunto e não se incomodar com uma escrita quase marginal e com partes eróticas.  


    


 

 

2 comentários:

  1. é comum na literatura japonesa os finais abertos ou sem explicação, com o tempo vc acostuma kk

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